domingo, 7 de novembro de 2010

De: Ricardo Fiuza
Planeta nº 3, do Sistema Solar

Para: Platão
República dos Livros, nº7


Meu caro amigo Platão!

Como sabes, continuo a morar na PUNKINHOUSE, essa habitação interminável, em forma de caverna, com uma entrada aberta para aquela luz tão misteriosa e inacessível. Não te estou a dar nenhuma novidade, porque soube que por algum tempo, também moraste aqui.
Escrevo esta carta por dois motivos, o primeiro é para te informar, que por cá está tudo na mesma. Quer o pequeno muro em rampa, assim como o fogo que ilumina a PUNKINHOUSE. Quanto aos homens, continuamos com o nosso desfile infinito de máquinas prodigiosas da técnica. Nós estamos tão ligados a elas, que agora já fazem parte do nosso corpo e as máquinas também ficaram com algo de humano. Para te dizer a verdade, as fronteiras entre nós e as máquinas desapareceram definitivamente. Passamos a ser as nossas criações, cada vez mais elaboradas e complexas.
Nas paredes admiramos as sombras projectadas destas criaturas, que não são mais que engenhos demenciais, que nos levam para um caminho precário e utópico. Que na melhor das hipóteses, aspiram a ser uma permanente promessa de felicidade.
O segundo motivo, é para me aconselhares a sair desta minha condição tão desagradável, que é estar algemado e preso por grilhões. Embora este espectáculo seja encantatório, continuo a ter curiosidade em ver o que está no outro lado, para além destas sombras, nesse local em que a luz abunda. Por isso pergunto-te, qual é a melhor maneira de mover o meu pescoço, sem ficar encandeado?
Aguardo a tua resposta, com grande ansiedade.

Ricardo Fiuza, Novembro de 2010

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